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A História do Crochê

A história é algo que faz parte de nós. Das pessoas, das civilizações e de cada criação feita pelos seres humanos. É ela que nos faz entender mais a fundo sobre determinado assunto, compreender as razões e os porquês de tudo ser como é atualmente.

Origens

As origens dessa arte milenar ainda são incertas. Alguns acreditam que o seu surgimento se deu na pré-história, outros acreditam que foi 1500a.C. e há quem diga que o crochê existe desde que o ser humano iniciou as civilizações. Seja como for, essa arte manual está na história há milhares de anos.

Há indícios que no início, o crochê existia para o vestuário masculino, voltado para caça e pesca, e a arte era feita apenas com os dedos.

A evolução do crochê

Uma teoria diz que o crochê próximo ao que conhecemos surgiu na China Antiga e era usado pelos chineses para confecção de bonecas.

Mas a teoria mais aceita é que tem origem da técnica se deu no século XVI na Arábia, no Oriente Médio, alcançando o mundo todo em razão das rotas comerciais do Mediterrâneo, tornando-se extremamente popular em tribos na América do Sul.

Crochê como conhecemos

Onde quer que essa arte tenha surgido, o fato é que ela se espalhou pelo mundo a partir do século XIX, quando a francesa Riego de La Branchardière desenhou padrões que poderiam ser copiados pelas pessoas, chegando a publicar por volta de 100 livros para difundir a técnica.

Surge então o “crochê no ar”, técnica francesa que utilizava apenas linha e agulha, como conhecemos. Afinal, anteriormente tinha um “tambour”, como nos bordados, veja o exemplo na imagem acima.

A técnica era realizada por pessoas mais humildes, o que gerou uma certa desvalorização. O crochê era visto como uma forma mais barata de criar as rendas e bilros, que eram extremamente caros e luxuosos. Até que a Rainha Vitória, da Inglaterra, passou a comprar as peças e aprendeu a produzi-las, o que mudou a mentalidade das pessoas da época e colocou as peças no patamar de moda.

Devido à Revolução Francesa, a técnica também passou a ser difundida para a nobreza, tornando-se um passatempo e sendo, então, amplamente aceita pelas elites.

Criações Irlandesas

Durante o período da Grande Fome (século XIX), a população vivia em condições precárias de trabalho e de vida, e o plantio não podia mais ocorrer em razão da doença das batatas. Isso resultou em milhares de pessoas morrendo de fome.

A disseminação da técnica ajudou a salvar diversas famílias. Homens, mulheres e crianças aprenderam a crochetar durante o período e passaram a sustentar suas casas com esse trabalho. Escolas foram criadas e professores treinados para ensinar ao redor do país as técnicas, visando dar condições para milhares de famílias sobreviverem ao período que ceifou cerca de 25% da população irlandesa.

As produções irlandesas eram muito detalhadas, trabalhadas em renda e fios extremamente finos. Logo, fizeram sucesso como adornos e vestimentas da nobreza e sacerdotes de toda a Europa.  

Por outro lado, as condições de produção das peças eram péssimas, devido ao momento que a população vivia. A corte da Europa que usufruía das peças não fazia a menor ideia das condições precárias em que elas eram criadas.  

De toda forma, o crochê foi um dos fatores que ajudou a salvar milhares de pessoas da crise vivenciada. Com a imigração em massa, a técnica irlandesa foi levada para todos os cantos do mundo.

Uma curiosidade da técnica é que apesar de ser chamado de crochê irlandês, ela foi criada na Inglaterra. E não para por aí, a artesã era francesa e tinha suas inspirações nos crochês da Espanha.  

Ou seja, uma grande mistura que demonstra como misturando diversas influências acabamos criando algo totalmente novo.  

De geração em geração

Não há como negar que por muitos anos, as técnicas eram aprendidas dessa forma, até que começaram a ter as receitas e escolas voltadas para o ensino dessa arte manual.

No século XIX, era extremamente comum que crianças por volta de seus 6 e 7 anos já começassem a aprender com as suas mães a crochetar. As crianças mais humildes tinham a necessidade de contribuir para a renda familiar. Por outro lado, as crianças da nobreza aprendiam como hobby.

Mas, ainda hoje, é comum que essas técnicas continuem sendo passadas de geração em geração, afinal, está ligada com o tempo de existência e afetividade no fazer manual coletivo. É claro que é possível aprender cada vez mais com a internet e de outras formas, mas essa característica ainda se perpetua.

Século XX

Na II Guerra Mundial, houve a falta de linhas e lãs e diversas peças eram desmontadas para criar, por meio do crochê, casacos e meias para os soldados. E, após esse período, a técnica volta a explodir na metade de século com o baby boom (elevadas taxas de natalidade), em um mundo que começava a questionar tudo ao seu redor e as mulheres começam a ter mais espaço na política, trabalho e em suas próprias famílias. O crochê era feito como forma de ascensão social ou apenas como hobby.

Certo tempo depois, com os hippies nos anos 60, surge a moda dos crochês muito coloridos e os quadrados (granny squares), utilizados em mantas e almofadas. A moda era mais descontraída, libertadora e natural, houve uma grande valorização do “eu que fiz”.

No Brasil, foi criada a revista Manequim, que mostrava as tendências da moda e trazia gráficos de como reproduzir as peças. O foco da revista era a costura e o bordado, mas volta e meia tinha edições de crochê e tricô. Esta era uma das maiores formas de popularizar as técnicas e informações sobre as artes.

O crochê nos dias de hoje

A explosão da produção em massa fez com que as técnicas e valorização desse trabalho diminuíssem ao longo dos anos. Mas, com o tempo, a sociedade toma consciência dos problemas do novo estilo de vida e produção, e volta a valorizar o fazer artesanal.

A arte volta a ser tendência devido ao destaque nas passarelas – a alta costura foi a responsável pelo pontapé inicial necessário para reacender o valor do crochê.

O crochê vira tendência do verão por vários anos consecutivos: 2017, 2018 e 2019, tornando-se uma técnica contemporânea e moderna, estando presente na decoração, vestimenta e até em intervenções urbanas, através de movimentos como o Yarn bombing.

E me sinto honrada em fazer parte da continuação dessa história, utilizando esta arte milenar para confeccionar artigos com muito amor e carinho!

Espero você no próximo artigo. Até lá!

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